13 fevereiro 2010

Avatar


Criar expectativas para um filme é algo perigoso, já que dificilmente elas são atendidas e, mesmo que o longa seja bom, fica um sentimento de frustração em função da espera por uma coisa ainda melhor; por isso, sempre procuro manter os pés no chão. Com relação a Avatar e todo o marketing que o envolveu a respeito de seus aspectos supostamente revolucionários, no entanto, foi impossível não elevar o nível de expectativas ao patamar mais alto e perigoso. Pois, para a minha surpresa, Avatar prometeu e cumpriu, e, como se não bastasse, ainda foi muito além do que eu esperava.

Comandados pelo ambicioso Selfridge (interpretado com excentricidade por Giovanni Ribisi), cientistas e homens do exército trabalham agregados, embora não harmoniosamente, para estudar e entender o planeta Pandora a fim de descobrir uma forma de se integrar aos habitantes locais, os Na’vi, para conseguir, de forma pacífica, extrair de seu subsolo o Unobtanium, uma pedra valiosíssima. Como o ar do planeta é venenoso aos seres humanos, eles criam, em laboratório, os avatares, que conjugam o DNA dos Na’vi e de pessoas pré-selecionadas. Por meio de uma tecnologia existente em 2154, ano em que o filme se passa, é possível implantar nesses seres a consciência de seus pares, que os controlam enquanto entram em uma espécie de transe dentro de uma máquina. Jake Sully (o simpático Sam Worthington), paraplégico que integrou o programa para substituir o irmão gêmeo morto, perde-se em sua primeira expedição pela floresta após ser atacado por um animal e acaba encontrando Neytiri (Zöe Saldana, numa interpretação tocante), que o leva para o seu povo e começa a ensiná-lo seus costumes, tradições e rituais – e é assim que Jake passa a recolher e repassar o máximo de informações aos seus superiores.

Os detalhes de Pandora são impressionantes. Embora criadas em computador, é possível jurar que todas aquelas plantas e criaturas existem de fato. A vegetação não aparece na tela simplesmente, ela reage a tudo ao seu redor; e a técnica de performance capture, que prometeu e trouxe avanços muito significativos, é realmente de uma minúcia fascinante, basta reparar na fluidez dos movimentos e nas expressões dos Na’vi. É preciso destacar também o cuidado com a textura da pele, que só se difere da dos seres humanos na cor e é incrivelmente real – para não dizer perfeita –, e outros pequenos detalhes, como as veias proeminentes sob a pele e até mesmo os pequenos vasos de suas orelhas, que, a propósito, lembram as dos felinos não só no formato, mas também no modo como se mexem, reagindo quando os sentidos são aguçados, o que, de uma maneira quase imperceptível, confere ainda mais vida àquelas criaturas.

É interessante notar ainda como os Na’vi e a vegetação convivem de forma harmoniosa, estabelecendo inclusive uma ligação física que integra uns aos outros com uma intensidade quase sensível ao espectador – e isso possibilita que a mensagem ecológica claramente pretendida pelo filme chegue ao público com mais força. Durante mais de uma hora, somos imersos nesse mundo novo, e, depois de ver tanta beleza e passar a conhecer a rica cultura daqueles humanóides, é impossível não mudar para o lado deles, que, diferente dos seres humanos, não precisaram destruir seu habitat para ser felizes. Alguns podem afirmar que essa mudança de lado se deve ao tratamento maniqueísta dado à trama, o que não é uma inverdade, mas, em meio a tantos outros aspectos que superam a excelência, isso se torna apenas um mero e insignificante detalhe.

Ao fim da sessão, ficou apenas a sensação de deslumbramento em virtude da maravilha que eu acabara de testemunhar. Embora acredite que as continuações que o filme provavelmente terá sejam desnecessárias (o que, claro, não se aplica ao lado financeiro da coisa), não consigo conter o desejo de voltar a Pandora. Após quase três horas de projeção, senti que poderia ter permanecido naquele mundo por muito mais tempo, mas, infelizmente, uma hora eu tive que acordar.

Avatar
Avatar, James Cameron, 2009.

Seja o primeiro a comentar!

Leia as regras:
- Seja educado: comentários ofensivos não serão tolerados.
- Escreva corretamente: por favor, internetês e miguxês não são agradáveis de se ler. Faça uso do português correto.