01 março 2010

Pequenos comentários #3 - Oscar

No post abaixo, eu disse que faria comentários sobre Guerra ao Terror, Um Olhar do Paraíso e O Segredo dos Seus Olhos, mas troquei este último (que, a propósito, achei maravilhoso) por Invictus. Confira:

GUERRA AO TERROR

Em Guerra ao Terror, Jeremy Renner interpreta William James, um soldado americano especializado no desarmamento de bombas. Nós acompanhamos o seu trabalho e o de seus companheiros no Iraque em várias sequências de pura tensão - construídas sem trilha estridente nem cortes rápidos, soando sempre com uma verossimilhança admirável – pontuadas por outras que expõem o impacto emocional que esse trabalho e tudo que o envolve têm sobre eles – o exemplo perfeito disso é a passagem em que James tira a máscara de homem inabalável e chora no banheiro. Não gostei apenas do envolvimento exagerado que ele estabelece com o garoto. Embora fique claro que o desejo por riscos faz parte de sua natureza, a atitude tomada jamais parece verdadeira, sobretudo porque foi planejada, e não circunstancial, como acontece posteriormente. De qualquer forma, isso é incapaz de ofuscar as qualidades do longa, que, em vez de hastear a bandeira estadunidense ou fazer qualquer tipo de campanha pró ou anti-guerra , concentra-se apenas nas pessoas que fazem parte dela.

Guerra ao Terror
The Hurt Locker, Kathryn Bigelow, 2008.

UM OLHAR DO PARAÍSO

Uma garota é assassinada e passa a observar sua família e o responsável por sua morte antes de fazer a passagem para o paraíso. Uma premissa interessante, mas muito mal aproveitada, e eu precisaria escrever um texto enorme para conseguir falar sobre tudo o que não gostei em Um Olhar do Paraíso: a estrutura desorganizada, o roteiro inconsistente, as cenas que flutuam na narrativa sem qualquer encaixe na história (às vezes, elas até parecem pertencer a outro longa), os personagens mal aproveitados e, claro, as passagens loucas e muitas vezes infundadas no in-between. Quase nada funciona. E digo “quase” somente em virtude de uma cena de tensão, que é bem conduzida - embora termine de forma ridícula e seja baseada na decisão tola que um personagem toma de permanecer em determinado local -, e de Mark Wahlberg, que oferece um pouco de carisma; porque nem Stanley Tucci, que recebeu uma indicação ao Oscar de Ator Coadjuvante, entrega uma interpretação além do normal. E o desfecho, coerente com tudo o que fora apresentado até então, apenas confirma o que se acentua à medida em que a projeção avança: que filme patético.

Um Olhar do Paraíso
The Lovely Bones, Peter Jackson, 2009.

INVICTUS

Invictus traz todos os elementos de um filme de esporte: lições sobre os limites, o preconceito, a competição, a união... A diferença aqui é que o personagem principal é Nelson Mandela (Morgan Freeman), uma grande e importantíssima figura da história mundial, e conta a luta real desse homem, que, depois de passar 27 anos preso e se eleger presidente logo após a sua libertação, conseguiu, por meio do rúgbi, unir uma nação que vinha de décadas de sofrimento em função do apartheid. Tirando algumas cenas extremamente piegas e desnecessárias – empregada ganhando ingresso e policial comemorando e levantando um menino negro na rua –, Invictus é um filme bom e, se você se deixar envolver, até emocionante.

Invictus
Invictus, Clint Eastwood, 2009.