07 dezembro 2009

8º Festival Varilux de Cinema Francês - Parte 1

Está havendo, nesta semana, a oitava edição do Festival Varilux de Cinema Francês. Natal é uma das 14 cidades que recebe o evento e, naturalmente, eu resolvi conferir os filmes. Escrevi três pequenos comentários sobre os que já assisti até agora, e até o fim da semana farei textos sobre os quatro restantes. Veja abaixo:

MAIS QUE O MÁXIMO


Coco, imigrante marroquino que deu certo em Paris, é um bilionário que, a fim de provar que conseguiu “chegar lá”, precisa mostrar a todos seu poder e sua influência. Para isso, organiza festas enormes para milhares de convidados; possui uma casa que mais parece um palácio, com quartos exagerados e em cores chamativas e com vários retratos familiares espalhados pelos cômodos, em sinal de um narcisismo necessário para ele; e até o elevador de sua empresa, ao chegar ao andar de seu escritório, é programado para dizer: “Você chegou ao topo”. O conceito de simples, para Coco, é passar o fim de semana em um iate em Mônaco, e chegar a um jantar de negócios pelo palco durante uma apresentação no Moulin Rouge parece até algo corriqueiro. Em meio à organização do Bar Mitzvah de seu filho, ele fica cada vez mais obcecado por sua mania de grandeza e acaba prejudicando sua relação com a família. Tudo isso, pintado de forma extremamente caricatural (lembre-se: ele é judeu) e com o auxílio de um protagonista verdadeiramente engraçado que leva o filme nas costas, torna Mais que o Máximo uma experiência bastante divertida e digna de muitas gargalhadas. Infelizmente, o longa, com o perdão do trocadilho, desliza na parte final, perdendo ritmo e sendo marcado por um desfecho de uma pieguice incoerente e desnecessária.

Mais que o Máximo
Coco, Gad Elmaleh, 2009.

UM SEGREDO EM FAMÍLIA


Na França do pós-guerra, François, um garoto franzino, precisa viver em uma casa na qual impera a lei do silêncio. Ele nada sabe sobre a história de seus pais, que parece ser determinante para explicar o porquê de muitas coisas, e passa por constantes frustrações ao não conseguir corresponder às expectativas deles com relação, principalmente, aos esportes. Com isso, acaba criando um irmão imaginário no qual faz uma projeção de como ele mesmo gostaria de ser: corajoso, bonito e talentoso. Seria interessante manter essa temática em evidência, mas, a partir de certo ponto, o filme concentra-se apenas em mostrar os segredos escondidos por trás do doloroso silêncio daquela casa e acaba por não desenvolver a história de François, configurando um problema de foco que prejudica um pouco a narrativa, principalmente porque nunca revela o impacto que essas descobertas tiveram na vida dele, mas que não chega a tornar o filme ruim. No aspecto técnico, é interessante notar que a fotografia assume o tom preto-e-branco nas passagens nas quais François já é um homem adulto, como se as cores de sua vida – no caso, a alegria de viver - tivessem esmaecido quando ele cresceu e perdeu o poder imaginativo que ainda lhe permitia sonhar, numa sutileza que faz valer a menção. Reunindo passagens interessantes e envolventes, e a despeito de alguns problemas, Um Segredo em Família é um bom filme.

Um Segredo em Família
Un Secret, Claude Miller, 2007.

A RIVIERA NÃO É AQUI


A fim de agradar a esposa, que passa por momentos de depressão, Philippe Abrams, diretor dos correios de Salon-de-Provence, uma simpática cidade ao sul da França, resolve pedir transferência para uma cidade na Riviera Francesa. Para conseguir a mudança mais facilmente, ele finge ser paraplégico, mas é desmascarado – em uma ótima cena – e, como punição, acaba sendo enviado a Bergues, um pequeno vilarejo ao norte do país, onde precisa permanecer por dois anos e cujo povo é visto com extremo preconceito por seus hábitos e sotaque diferentes. De início, Philippe fica profundamente triste com a transferência, e a sua chegada, explorando as dificuldades de comunicação e a estranheza com a qual ele encara costumes gastronômicos e comportamentais do local, é muito divertida, mas logo o cenário se transforma. O diretor passa a experimentar coisas que só uma cidade pequena proporciona, como amizade, cumplicidade, hospitalidade e solidariedade incontestes – esta última representada em uma divertida passagem que envolve a esposa de Philippe –, e passa a sentir-se muito feliz em Bergues. Com uma leveza ímpar, A Riviera Não é Aqui apresenta excelentes personagens que, embora pouco profundos, mostram-se extremamente carismáticos e encantadores, muito em função de seus ótimos intérpretes, e uma história deliciosamente despretensiosa que conquista de imediato. No fim, até o espectador toma para si a verdade de uma fala dita em determinado momento: “Quando vem ao norte, um estranho chora duas vezes: quando chega e quando vai embora”.

A Riviera Não é Aqui
Bienvenue chez les Ch'tis, Dany Boon, 2008.

2 comentários

Diego Rodrigues disse...

Não assisti a nenhum dos filmes acima, mas tenho uma curiosidade por Coco (eu não me acostumei ainda a falar o nome dele).

Parabéns pelo blog, tudo perfeito: os textos bem escritos, a edição muito bem feita... Enfim, tens futuro como jornalista ;D

Samantha disse...

Diego, muito obrigada. Fico feliz em ler isso. =D

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