03 dezembro 2009

Planeta 51



Os muitos filmes de alienígenas já produzidos mostram sempre os seres humanos tratando os extraterrestres ou como criaturas ameaçadoras ou, no mínimo, com bastante cautela. Planeta 51 inverte esse cenário, levando o espectador a um mundo no qual o próprio homem é um invasor. O filme nos apresenta a um planeta bastante simpático e bonito – cuja aparência, aliás, se aproxima muito de uma mistura entre a Terra do passado e várias de suas projeções do futuro –, que vive sob uma dinâmica social e organizacional, costumes, modos e tradições muito parecidos com os do nosso mundo. A sequência inicial, por exemplo, mostra os seres verdes assistindo a uma superprodução sobre uma invasão alienígena, revelando, logo de cara, algumas dessas semelhanças.

Quem conduz a história é Lem, um “garoto” normal que acabou de conseguir seu primeiro emprego, é apaixonado pela vizinha e faz parte do que parece ser a típica família de seu planeta, que se assemelha muito às americanas tradicionais. A nave do astronauta Chuck pousa justamente em frente à sua casa, e os dois eventualmente se encontram. Após uma conversa, Lem decide ajudá-lo a voltar à Terra, já que no Planeta 51 o exército está caçando-o incessantemente.

Como já virou praxe em algumas animações, o longa traz uma série de referências, e as mais óbvias são as de ET e Cantando na Chuva; mas, em determinado momento, é impossível não ver Chuck fazendo a carinha do Gato-de-Botas de Shrek e não enxergar as semelhanças evidentes entre Hover, uma sonda enviada para fotografar o planeta e que cumpre obsessivamente suas diretrizes, e Wall-E, sobretudo quando a pequena máquina interage com um inseto alienígena – a barata da vez. Hover, porém, passa a se comportar mais como um cachorro a partir de certo momento, inclusive fazendo xixi – ou, no seu caso, derramando óleo – ao enfrentar uma situação de medo, em uma cena no mínimo fofa, como muitas protagonizadas por ele.

É uma pena que o universo do filme apresente algumas inconsistências, dando espaço a questionamentos que poderiam ser facilmente evitados. Como o povo do Planeta 51 pode, por exemplo, ter inteligência suficiente para desenvolver carros flutuantes – utilizando uma tecnologia semelhante à do hoverboard, de De Volta para o Futuro, que ainda é primitiva por aqui – e uma base antialienígena com recursos aparentemente avançadíssimos, mas, ao mesmo tempo, possuir conhecimentos astronômicos bastante limitados e ser facilmente enganado por um cientista descaradamente charlatão? Se eles não demonstrassem qualquer interesse pelo assunto, poderíamos relevar; como não é o caso, tal cenário torna-se um tanto implausível.

Algumas piadas funcionam muito bem, como a do iPod sendo considerado uma “arma horrível” ao tocar “Macarena” – e isso, associado ao fato de Chuck classificar a música do Planeta 51, que se assemelha muito à dos anos 50, como “velha”, só pode ser uma crítica aos hits atuais (e nem precisa ser tão atual assim); e convenhamos que “Lugarzinho estranho pra se ter uma antena” foi uma ótima tirada. Algumas gags visuais, sobretudo as que envolvem um cachorro, também são muito boas. Outras passagens, porém, além de sem graça, foram extremamente forçadas, mas, creio eu, muito em função da dublagem, que decidiu substituir infelizmente não sei o quê por falas relacionadas às Olimpíadas do Rio, aos mil gols de Pelé e à Jovem Guarda, o que se mostrou uma péssima escolha.

O melodrama final, e incômodo, veio na forma de um discurso a respeito do medo do desconhecido, e mesmo antes, na metade da projeção, já víramos Chuck versar sobre o heroísmo – aliás, os astronautas, que são considerados herois em seus países, foram delineados no filme como pessoas apenas charmosas e narcisistas que não precisam realmente fazer muito esforço para alcançar seus objetivos, o que achei injusto, embora isso também não queira dizer que eu os cultue. Apesar dos defeitos, Planeta 51, assim como o próprio, é um filme agradável, simpático e divertido, e é no mínimo interessante observar atitudes tipicamente humanas em outros seres.

Há uma cena adicional após os créditos.

Planeta 51
Planet 51, Jorge Blanco, 2009.

3 comentários

Bruno Soares disse...

Parece uma excelente premissa, desperdiçada por um roteiro falho. Vou esperar o DVD. Gostei do blog.

Robson Saldanha disse...

Acho animações sempre bem vindas. Gosto da maneira como tratam as coisas. Ainda mais quando fazem referências claras a outros filme. A premissa dessa parece bem interessante, mas creio que vou esperar para conferir em DVD mesmo!

Cleber Eldridge disse...

Não connhecia o seu blog, mas parabéns pelo mesmo!
Bom, esse tipo de animação não me chama atenção, alias são raras as que consegue esse feito, então ... deixo passar!

Beijos e Parabéns!

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