14 novembro 2009

2012

Contém spoilers

Roland Emmerich adora destruir o mundo, não importa como, embora, para ele, os problemas ambientais pelos quais o planeta vem atravessando sejam bastante oportunos. Isso é tão forte que, em seus filmes-desastre, o diretor, sem cerimônia, coloca de lado qualquer coerência ou profundidade narrativa em troca de conveniências que possibilitem o maior número de cenas de ação fantásticas que possam deixar qualquer um de queixo caído. 2012, seu mais novo longa, lançado no Brasil no dia 13 de novembro, é um exemplo perfeito disso.

A história se alterna entre cientistas, geólogos e personagens do governo que, em segredo, tentam preparar o mundo para um desastre inevitável – o superaquecimento do núcleo terrestre, que provocará a movimentação da crosta do planeta e, consequentemente, terremotos e tsunamis potencialmente capazes de dizimar a raça humana –, uma família problemática e mais uma leva de personagens caricatos. Estes últimos representam, junto com as cenas de ação, a melhor parte de 2012: a que não se leva a sério, tornando tudo muito mais divertido.

John Cusack interpreta Jackson Curtis, ex-marido de Kate (Amanda Peet) e pai problemático. Ao levar os filhos para acampar em uma reserva à qual costumava ir com a mãe das crianças, Curtis deliberadamente pula uma cerca com placas que alertam para uma área de perigo e, claro, não vê problema em colocar os meninos no meio de uma região que exala fumaça rodeada por animais mortos. Abordado pelo exército americano, que está de olho na área, ele é levado a uma base na qual conhece Adrian Helmsley, geólogo comandante da preparação do mundo para o desastre já citado e que, repare na coincidência, está lendo e adorando o fracassado livro publicado por Curtis. Lá, o escritor também conhece Charlie Frost, um divertido radialista e aparente louco que está a par de tudo e em quem Curtis, naturalmente, não acredita. Mas, quando todos voltam para as suas casas, o mundo começa, literalmente, a desmoronar – e não há como duvidar desse “literalmente” em um filme de Emmerich.

As cenas de destruição, com viadutos caindo, casas sendo engolidas por crateras gigantescas, arranha-céus, obeliscos, torres e construções colossais desabando, são de encher os olhos; melhor ainda é ver tudo isso acompanhando a fuga quase hilária da família em uma limusine, veículo nada prático que só pode ter sido escolhido a fim de conferir ainda mais diversão às cenas em questão. Há também algumas sequências engraçadíssimas de tão ridículas. No supermercado, o atual marido de Kate diz algo como: “Parece que há sempre algo nos separando”, e logo em seguida o local é partido ao meio exatamente no corredor onde os dois se encontram, colocando-os, literalmente, separados por um abismo; e ótimo também é quando o governador da Califórnia, em um pronunciamento, diz estar tudo sob controle para imediatamente depois o estado começar a entrar em colapso, numa construção de cena admiravelmente complexa.

O grande problema é quando 2012 tenta ser sério e, pior, emocionante. Momentos heróicos demais, despedidas de personagens para os quais pouco, ou nada, nos importamos e explicações científicas elaboradas em excesso - ainda mais quando sabemos que aquilo deve ser uma versão exagerada de uma projeção hipotética e provavelmente absurda -, por exemplo, tiram completamente o ritmo da narrativa e não despertam nenhum tipo de interesse. Aliás, algumas dessas passagens chegam a ser até mesmo constrangedoras.

No desfecho do longa, e novamente em nome da conveniência, Emmerich se livra de mais alguns personagens para que tenhamos um final lindo, feliz, romântico (“Eu te amo”? Como assim?) e familiar nas arcas de Noé do terceiro milênio. Ou do primeiro, que seja. Ah, e que poético a África ser a salvação do mundo, não? Enfim. 2012 é diversão garantida, e ainda bem que é claramente somente a isso que o filme se pretende. Quem encarar de outra forma, porém, vai apenas se deparar com um festival de vergonha alheia.

2012
2012, Rolland Emmerich, 2009.

2 comentários

Robson Saldanha disse...

Eu achei a idéia da África fantástica e bem explicativa. Acho que faltou algumas coisas que fizeram o filme cair no meu conceito, mas é um bom filme. Dá pra curtir e se angustiar também...

Samantha disse...

Robson, na verdade, eu passei o filme inteiro rindo, e foi justamente por isso que gostei. Fui irônica no meu comentário sobre a África, mas, levando em conta a narrativa do longa, era de se esperar que fizessem algo do tipo; ou seja, embora eu tenha achado uma bobagem, não condenei porque foi coerente.

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