19 novembro 2009

Pequenos comentários #1



Os Fantasmas de Scrooge, nova adaptação de Um Conto de Natal, de Charles Dickens, conta a história do rabugento e mesquinho Ebenezer Scrooge, que, na véspera de Natal, festa que considera um “embuste!”, recebe a visita de três espíritos que tentarão fazê-lo entender que há coisas mais importantes no mundo do que o dinheiro. A mensagem do filme, embora bonita e representada de forma esteticamente encantadora – o motion capture é impressionante –, é desgastada demais aos olhos dos espectadores mais velhos, que saem do cinema com a sensação de ter visto apenas mais do mesmo. As crianças, por outro lado, podem até extrair dali uma lição, mas, em função da linguagem às vezes até rebuscada – confesso que nem eu sabia o que era embuste –, acabam perdendo muitas coisas no caminho, deixando a sala com a provável sensação de incompreensão. Em determinados momentos, o filme ainda é extremamente assombroso e pode se tornar um terror infantil para alguns pequenos (havia mães tapando os olhos de seus filhos na minha sessão). Em suma: bonito, mas dispensável, e pouco eficiente nos aspectos nos quais tinha mais chance de acertar.

Os Fantasmas de Scrooge
A Christmas Carol, Robert Zemeckis, 2009.



Flint Lockwood cresceu tentando inventar algo útil, mas suas engenhocas, sempre dando errado, só o tornaram uma pessoa maluca e inconveniente aos olhos dos habitantes de sua cidadezinha. Ao criar uma invenção de sucesso, porém, Flint passa a ser adorado, e, cego por seu desejo de aceitação, perde a noção dos limites, fazendo com que sua máquina, que transforma água em comida, cause problemas de proporção mundial. Tá Chovendo Hambúrguer foi concebido para ser visualmente exagerado, e aproveita bem essa característica para criar momentos divertidos - como não rir, por exemplo, ao ver um personagem contrair a bunda enquanto ela está em close, numa tentativa inusitada de expressar raiva, ou ao testemunhar o enorme esforço do pai de Flint para mostrar os olhos por trás de sua volumosa sobrancelha?

O filme ainda conta com boas piadas, sendo uma delas até crítica no que diz respeito aos restos de comida (“O que os olhos não veem...”), e brinca com uma “coincidência” recorrente em vários filmes, sobretudo nos de catástrofe (e este pode, sim, ser considerado catastrófico): é impressionante como tudo acontece primeiro nas cidades mais famosas do mundo, não? Até a fotografia deixa de lado a sutileza e muda deliberadamente e com frequência de cinzenta e fria para vivaz e colorida, ou o contrário, dependendo do estado de espírito de seu protagonista. Tá Chovendo Hambúrguer, no entanto, é prejudicado por sequências desnecessárias e aborrece um pouco ao tentar esfregar a lição final na cara do espectador em vez de deixá-la implícita, mas ainda assim é uma experiência divertida.

Tá Chovendo Hambúrguer
Cloudy with a Chance of Meatballs, Phil Lord, Chris Miller, 2009.



Imaginativo e fantástico de forma inacreditável, A Viagem de Chihiro fez com que eu me flagrasse boquiaberta a cada nova criatura que irrompia na tela durante sua projeção. Contando a história de Chihiro, que, após alguns acontecimentos, se vê presa em um mundo completamente estranho, no qual seus pais viraram porcos, o longa leva o espectador a acompanhar a jornada da menina, que consiste, na verdade, em seu crescimento pessoal. Para perceber isso, basta reparar na Chihiro do começo, aparentemente mimada e birrenta, e a do final, capaz de tomar decisões importantes e de abrir mão de seu próprio bem-estar em prol de outras pessoas. A Viagem de Chihiro pode ser um filme para crianças na medida em que desperta o imaginário, mas sem dúvida tem mais força em um adulto capaz de compreender seus significados. Excelente.

A Viagem de Chihiro
Sen to Chihiro no kamikakushi, Hayao Miyazaki, 2003.

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