28 setembro 2009

A Verdade Nua e Crua


Contém spoilers

A Verdade Nua e Crua é um filme apenas agradável, mas nem isso seria sem a presença do carismático Gerard Butler. O longa conta com uma protagonista um tanto irritante, e é Butler quem compensa esse problema. Embora interprete um sujeito odioso, consegue torná-lo adorável (repare no modo como ele se relaciona com a família), mesmo quando fala coisas que podem soar absurdas aos ouvidos femininos.

A introdução do filme mostra a rotina metodicamente caótica de Abby Richter, produtora de TV que precisa lidar com os problemas de audiência de seu programa e ainda resolver questões de relacionamento entre os funcionários, fato ilustrado em uma ridícula cena na qual ela usa um apito para calar a todos e controlar a situação. O clima morno do filme acaba logo que Mike Chadway aparece apresentando seu programa, no qual, sem medir as palavras e com um machismo transbordante, ele conta a sua verdade sobre os homens, e essa verdade entra em total conflito com o príncipe encantado que Abby e sua adolescente interior cheia de dancinhas fantasiam. O sucesso leva Mike a ganhar um quadro no programa da moça, e é óbvio que esses seres tão opostos vão se sentir atraídos um pelo outro.

Inicialmente, tentando convencer Abby de que ele realmente sabe tudo o que se passa no cérebro masculino, o personagem de Butler dá dicas para que ela conquiste seu vizinho, um médico lindo, bem sucedido e educado, entre outras tantas qualidades, ou seja, um cara tão perfeito que chega a incomodar. Uma vez estabelecida a dinâmica, o filme conta com vários momentos divertidos. A cena em que Abby vai a um restaurante vestindo uma calcinha com um vibrador, por exemplo, apesar de completamente previsível, durou o tempo exato para arrancar muitas gargalhadas e não se tornar maçante, embora seja ridículo constatar que o jantar de negócios não serviu pra nada além disso. As conversas entre Abby e Mike, sempre ágeis, também proporcionam boas cenas.

Em contrapartida, a seqüência do jogo de baseball, cujo início foi divertido, acabou passando dos limites e tornou-se constrangedora a ponto de não ter mais graça nenhuma. A trilha sonora, excessivamente pop, também é um ponto negativo, pois confere histeria a cenas nas quais isso é inadequado. Quando Abby e seu vizinho viajam, por exemplo, o clima romântico simplesmente some com a dançante Pocketful Sunshine. E, a partir do momento em que o desfecho começa a se desenrolar, o filme perde um pouco a força, principalmente porque Mike amolece no que diz respeito aos seus pontos de vista sobre os relacionamentos ("Abby, eu quero te beijar. E não só hoje." não soou nada coerente). É até engraçado perceber que essa constatação dá base a uma verdade que ele provavelmente defenderia: homem safado é muito mais interessante; e é curioso ver que A Verdade Nua e Crua acabou encontrando, em um defeito, uma forma de autoafirmação.

O saldo final é positivo, principalmente em virtude de Butler, que, assim como fez com Abby e sua intérprete um tanto insossa, salvou com louvor o filme da chatice.

A Verdade Nua e Crua
The Ugly Truth, Robert Luketic, 2009.

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