Contém spoilers
[REC], o primeiro filme do que provavelmente se tornará uma série, foi uma bela surpresa. Eu não tinha qualquer expectativa e acabei me deparando com um mockumentary tenso que, sem explicar muita coisa, colocava o espectador diante de situações de violência assustadoramente cruas. Com o sucesso, era de se esperar que o – excelente – final em aberto fosse aproveitado para dar continuidade à história. Uma pena, porque [REC] 2, tentando esclarecer tudo o que se passara em seu antecessor, quase arruína tudo.
O maior erro foi dar contornos verdadeiramente religiosos à trama. Apesar de levantar a questão em seu término, [REC] ainda deixava dúvidas quanto a isso, mas este segundo, além de confirmar as informações encontradas na cobertura do prédio, ainda traz cenas de exorcismo, sangue “contaminado com o demônio” queimando em função do contato com a cruz e conversas com o próprio capeta, o que provoca reações que beiram o constrangimento.
Há ainda outro fenômeno misterioso: usando a desculpa de que a garota possuída que deu início a tudo só aparece no escuro, os personagens resolvem utilizar a visão noturna da câmera. O grande problema é que isso não explica o fato de portas, passagens e até tanques de água aparecerem somente nessa condição. Para um filme que tinha como um de seus grandes méritos a proeza de conferir verdade a uma história de zumbis – é o que eles são, afinal de contas –, o que aterroriza justamente porque o espectador, de alguma forma, considera aquilo transferível à sua própria realidade, isso é inaceitável.
O ritmo também é prejudicado por falhas do roteiro. Frenético no começo e decepcionando apenas pelo conteúdo das explicações, o filme dá uma pausa absurda em sua inquietude para introduzir novos personagens – chatos e burros – cuja função (que, na verdade, é apenas de um deles) poderia ter sido realizada por pessoas que já estivessem dentro do prédio e com as quais o público já fosse pelo menos familiarizado. Como o longa tem uma duração bem reduzida (apenas 85 minutos), só posso concluir que tudo isso não passou de uma terrível manobra para dilatar o tempo de projeção.
De qualquer maneira, mantendo o estilo cru do primeiro, [REC] 2 ainda tem momentos assustadores, mas, mesmo assim, é decepcionante constatar que toda a trama foi resumida a um demônio lagartão.
[REC] 2
[REC] 2, Jaume Balagueró, Paco Plaza, 2009.
O maior erro foi dar contornos verdadeiramente religiosos à trama. Apesar de levantar a questão em seu término, [REC] ainda deixava dúvidas quanto a isso, mas este segundo, além de confirmar as informações encontradas na cobertura do prédio, ainda traz cenas de exorcismo, sangue “contaminado com o demônio” queimando em função do contato com a cruz e conversas com o próprio capeta, o que provoca reações que beiram o constrangimento.
Há ainda outro fenômeno misterioso: usando a desculpa de que a garota possuída que deu início a tudo só aparece no escuro, os personagens resolvem utilizar a visão noturna da câmera. O grande problema é que isso não explica o fato de portas, passagens e até tanques de água aparecerem somente nessa condição. Para um filme que tinha como um de seus grandes méritos a proeza de conferir verdade a uma história de zumbis – é o que eles são, afinal de contas –, o que aterroriza justamente porque o espectador, de alguma forma, considera aquilo transferível à sua própria realidade, isso é inaceitável.
O ritmo também é prejudicado por falhas do roteiro. Frenético no começo e decepcionando apenas pelo conteúdo das explicações, o filme dá uma pausa absurda em sua inquietude para introduzir novos personagens – chatos e burros – cuja função (que, na verdade, é apenas de um deles) poderia ter sido realizada por pessoas que já estivessem dentro do prédio e com as quais o público já fosse pelo menos familiarizado. Como o longa tem uma duração bem reduzida (apenas 85 minutos), só posso concluir que tudo isso não passou de uma terrível manobra para dilatar o tempo de projeção.
De qualquer maneira, mantendo o estilo cru do primeiro, [REC] 2 ainda tem momentos assustadores, mas, mesmo assim, é decepcionante constatar que toda a trama foi resumida a um demônio lagartão.
[REC] 2
[REC] 2, Jaume Balagueró, Paco Plaza, 2009.