19 novembro 2010

RED - Aposentados e Perigosos


A época propícia para levar adaptações de quadrinhos às telonas já dura alguns anos, e RED - Aposentados e Perigosos nada mais é do que a DC fazendo proveito disso mais uma vez. Contando com um elenco recheado de estrelas acima dos 50 anos, o filme dirigido por Robert Schwentke é divertido e oferece algumas ótimas cenas de ação e performances bastante satisfatórias, mas conta com um roteiro tão preguiçoso e mal acabado - escrito por Jon e Erich Hoeber com base na HQ de Warren Ellis e Cully Hamner - que quase põe tudo a perder.

Em RED, os aposentados do título, liderados por Frank Moses (Bruce Willis), passam a ser perseguidos por um agente da CIA que, cumprindo ordens de uma pessoa cuja identidade desconhece, deve matá-los de qualquer maneira. Ao longo do filme, descobrimos que as motivações envolvem acontecimentos ocorridos em uma missão na Guatemala em 1981 - e não muito mais que isso, já que certamente daria trabalho demais inventar uma história minimamente bem elaborada. Soma-se a essas questões o “romance” de Moses com Sarah Ross (Mary-Louise Parker), que, também caçada, acompanha o grupo na fuga.

As situações absurdas que, como era de se esperar, permeiam o longa são quase sempre deliciosamente engraçadas: o duelo de granadas, Bruce Willis descendo tranquilamente do carro enquanto ele roda na pista e pessoas explodindo. Mas há também os momentos que, de tão exagerados, quebram até mesmo a lógica absurda do filme, como a solução ridiculamente preguiçosa encontrada pelos roteiristas para que Moses entrasse na sala de arquivos da CIA. Se a intenção da cena é arrancar risadas – e, de fato, é –, ela falha miseravelmente em seu objetivo.

Mas o grande trunfo de RED é o seu elenco, com destaque para John Malkovich na pele do paranóico Marvin Boggs e Helen Mirren, que interpreta a ex-agente Victoria. Marvin é louco na medida certa, e Malkovich sabe transmitir isso até nos momentos mais comedidos, como quando observa o beijo de um casal ou, após matar uma pessoa, displicentemente chama os companheiros para comer panquecas. Mirren, por sua vez, empresta elegância à personagem, empunhando armas com personalidade mas sem jamais perder a postura. O visual de Victoria, a propósito, contrapõe com perfeição seus atos e palavras, o que a torna ainda mais interessante. Já Bruce Willis atua mais como o elo do filme, e Morgan Freeman faz uma participação discreta, assim como Brian Cox e seu caricato russo – tinha que ter um russo! – Ivan Simanov. Enquanto isso, Mary-Louise Parker tenta dar alguma vida a uma personagem vazia. Engraçada no começo, mais tarde Sarah passa a desempenhar apenas a função para a qual foi criada: isca. Ela não é usada nem como barata tonta perdida no meio do tiroteio.

O roteiro, de tão pobre, mal oferece elementos a serem explorados, representando apenas uma muleta meio quebrada para que o filme se arraste por longos 111 minutos – não custava nada ser um pouco mais enxuto – abusando dos poucos pontos positivos citados anteriormente, e as surpresas guardadas para o fim são tão óbvias que, pensando bem, começo a acreditar que jamais foram arquitetadas para surpreender de fato. Além disso, o romance entre Frank e Sarah funciona tão bem quanto um relógio sem pilha. E, como se tudo isso não bastasse, RED ainda comete descuidos visuais. Ao utilizar cartões postais para fazer a transição entre algumas cenas e situar geograficamente o espectador, a montagem insere elementos que sempre parecem esteticamente deslocados dentro do longa.

No entanto, não se pode exigir de RED algo que ele nunca se propôs a fazer; assim, como a diversão prometida, até que o filme é eficiente. Mas, convenhamos, um pouco mais de esforço criativo teria sido muito bem-vindo.

RED - Aposentados e Perigosos
RED, Robert Schwentke, 2010.